Acesso em: http://www.iacat.com/revista.
Artigo científico de muita importância e muito didático!
A MÚSICA COMO MEIO DE DESENVOLVER A INTELIGÊNCIA
E A INTEGRAÇÃO DO SER
Lígia Karina Meneghetti Chiarelli
Curso de Especialização em Psicopedagogia
Sidirley de Jesus Barreto
Instituto Catarinense de Pós-Graduação
Resumo
Este artigo tem por
objetivo apresentar a música e a musicalização como elementos
contribuintes para o desenvolvimento da inteligência e a integração do
ser. Explica como a musicalização pode contribuir com a aprendizagem,
traz algumas sugestões de atividades e analisa o papel da música na
educação. Remete também ‘a Inteligência Musical,
apontada por Howard Gardner, como uma das múltiplas inteligências e à
capacidade que a música tem de influenciar o homem física e mentalmente,
podendo contribuir para a harmonia pessoal, facilitando a integração e a
inclusão social.
Palavras-chave: música, musicalização, educação, desenvolvimento, integração, inclusão.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo apresentar a
música e a musicalização como elementos contribuintes para o
desenvolvimento da inteligência e a integração do ser. Explica como a
musicalização pode contribuir com a aprendizagem, favorecendo o
desenvolvimento cognitivo/ lingüístico, psicomotor e sócio-afetivo da
criança. Apresenta algumas sugestões de atividades, baseadas na
experiência com a prática da musicalização com crianças e fundamentadas
em pesquisa bibliográfica.
O artigo fala ainda do papel da música na
educação, não apenas como experiência estética, mas também como
facilitadora do processo de aprendizagem, como instrumento para tornar a
escola um lugar mais alegre e receptivo, e também ampliando o
conhecimento musical do aluno, afinal a música é um bem cultural e seu
conhecimento não deve ser privilégio de poucos. Sugere que a escola deve
oportunizar a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos
estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado,
permitindo que o aluno se torne mais crítico.
Também aborda a questão da Inteligência
Musical, apresentada por Howard Gardner (1995) na teoria das
inteligências múltiplas, e apresenta alguns motivos pelos quais ela deva
ser melhor considerada no currículo escolar. Por fim, indica a música
como um elemento importante para estabelecer a harmonia pessoal,
facilitando a integração, a inclusão social e o equilíbrio
psicossomático.
2. O QUE É MÚSICA?
Segundo Bréscia (2003), a
música é uma linguagem universal, tendo participado da história da
humanidade desde as primeiras civilizações. Conforme dados
antropológicos, as primeiras músicas seriam usadas em rituais, como:
nascimento, casamento, morte, recuperação de doenças e fertilidade. Com o
desenvolvimento das sociedades, a música também passou a ser utilizada
em louvor a líderes, como a executada nas procissões reais do antigo
Egito e na Suméria.
Na Grécia Clássica o ensino da música era
obrigatório, e há indícios de que já havia orquestras naquela época.
Pitágoras de Samos, filósofo grego da Antigüidade, ensinava como
determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações
definidas no organismo humano. “Pitágoras demonstrou que a seqüência
correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar
padrões de comportamento e acelerar o processo de cura” (BRÉSCIA, p. 31,
2003).
Atualmente existem diversas definições para
música. Mas, de um modo geral, ela é considerada ciência e arte, na
medida em que as relações entre os elementos musicais são relações
matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e
combinações. Houaiss apud Bréscia (2003, p. 25) conceitua a música como
“[...] combinação harmoniosa e expressiva de sons e como a arte de se
exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a
civilização etc”.
Já Gainza (1988, p.22) ressalta que: “A música e
o som, enquanto energia, estimulam o movimento interno e externo no
homem; impulsionam-no ‘a ação e promovem nele uma multiplicidade de
condutas de diferentes qualidade e grau”.
De acordo com Weigel (1988, p. 10) a música é composta basicamente por:
Som: são as vibrações
audíveis e regulares de corpos elásticos, que se repetem com a mesma
velocidade, como as do pêndulo do relógio. As vibrações irregulares são
denominadas ruído.
Ritmo: é o efeito que se origina da duração de diferentes sons, longos ou curtos.
Melodia: é a sucessão rítmica e bem ordenada dos sons.
Harmonia: é a combinação simultânea, melódica e harmoniosa dos sons.
De acordo com Wilhems apud Gainza (1988, p. 36):
Cada um dos aspectos ou elementos da música
corresponde a um aspecto humano específico, ao qual mobiliza com
exclusividade ou mais intensamente: o ritmo musical induz ao movimento
corporal, a melodia estimula a afetividade; a ordem ou a estrutura
musical (na harmonia ou na forma musical) contribui ativamente para a
afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem.
2.1. O QUE É MUSICALIZAÇÃO ?
Para Bréscia (2003) a musicalização é um
processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo despertar e
desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da
sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música,
da imaginação, memória, concentração, atenção, auto-disciplina, do
respeito ao próximo, da socialização e afetividade, também contribuindo
para uma efetiva consciência corporal e de movimentação.
As atividades de musicalização permitem que a
criança conheça melhor a si mesma, desenvolvendo sua noção de esquema
corporal, e também permitem a comunicação com o outro. Weigel (1988) e
Barreto (2000) afirmam que atividades podem contribuir de maneira
indelével como reforço no desenvolvimento cognitivo/ lingüístico,
psicomotor e sócio-afetivo da criança, da seguinte forma:
Desenvolvimento cognitivo/ lingüístico: a
fonte de conhecimento da criança são as situações que ela tem
oportunidade de experimentar em seu dia a dia. Dessa forma, quanto maior
a riqueza de estímulos que ela receber melhor será seu desenvolvimento
intelectual. Nesse sentido, as experiências rítmico musicais que
permitem uma participação ativa (vendo, ouvindo, tocando) favorecem o
desenvolvimento dos sentidos das crianças. Ao trabalhar com os sons ela
desenvolve sua acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou dançar ela
está trabalhando a coordenação motora e a atenção; ao cantar ou imitar
sons ela esta descobrindo suas capacidades e estabelecendo relações com o
ambiente em que vive.
Desenvolvimento psicomotor: as
atividades musicais oferecem inúmeras oportunidades para que a criança
aprimore sua habilidade motora, aprenda a controlar seus músculos e
mova-se com desenvoltura. O ritmo tem um papel importante na formação e
equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda expressão musical ativa
age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a reação motora e
aliviando as tensões. Qualquer movimento adaptado a um ritmo é resultado
de um conjunto completo (e complexo) de atividades coordenadas. Por
isso atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés,
são experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se
desenvolva o senso rítmico, a coordenação motora, fatores importantes
também para o processo de aquisição da leitura e da escrita.
Desenvolvimento sócio-afetivo: a
criança aos poucos vai formando sua identidade, percebendo-se diferente
dos outros e ao mesmo tempo buscando integrar-se com os outros. Nesse
processo a auto-estima e a auto-realização desempenham um papel muito
importante. Através do desenvolvimento da auto-estima ela aprende a se
aceitar como é, com suas capacidades e limitações. As atividades
musicais coletivas favorecem o desenvolvimento da socialização,
estimulando a compreensão, a participação e a cooperação. Dessa forma a
criança vai desenvolvendo o conceito de grupo. Além disso, ao
expressar-se musicalmente em atividades que lhe dêem prazer, ela
demonstra seus sentimentos, libera suas emoções, desenvolvendo um
sentimento de segurança e auto-realização.
É importante salientar a importância de se
desenvolver a escuta sensível e ativa nas crianças. Mársico (1982)
comenta que nos dias atuais as possibilidades de desenvolvimento
auditivo se tornam cada vez mais reduzidas, as principais causas são o
predomínio dos estímulos visuais sobre os auditivos e o excesso de
ruídos com que estamos habituados a conviver. Por isso, é fundamental
fazer uso de atividades de musicalização que explorem o universo sonoro,
levando as crianças a ouvir com atenção, analisando, comparando os sons
e buscando identificar as diferentes fontes sonoras. Isso irá
desenvolver sua capacidade auditiva, exercitar a atenção, concentração e
a capacidade de análise e seleção de sons.
As atividades de exploração sonora devem partir
do ambiente familiar da criança, passando depois para ambientes
diferentes. Por exemplo, o educador pode pedir para que as crianças
fiquem em silêncio e observem os sons ao seu redor, depois elas podem
descrever, desenhar ou imitar o que ouviram. Também podem fazer um
passeio pelo pátio da escola para descobrir novos sons, ou aproveitar um
passeio fora da escola e descobrir sons característicos de cada lugar.
O educador também pode gravar sons e pedir para
que as crianças identifiquem cada um, ou produzir sons sem que elas
vejam os objetos utilizados e pedir para que elas os identifiquem, ou
descubram de que material é feito o objeto (metal, plástico, vidro,
madeira) ou como o som foi produzido (agitado, esfregado, rasgado,
jogado no chão). Assim como são de grande importância as atividades onde
se busca localizar a fonte sonora e estabelecer a distância em que o
som foi produzido (perto ou longe). Para isso o professor pode pedir
para que as crianças fiquem de olhos fechados e indiquem de onde veio o
som produzido por ele, ou ainda, o professor pode caminhar entre os
alunos utilizando um instrumento ou outro objeto sonoro e as crianças
vão acompanhando o movimento do som com as mãos.
Posteriormente o educador pode trabalhar os atributos do som:
Altura: agudo, médio, grave.
Intensidade: forte, fraco.
Duração: longo, curto.
Timbre: é a característica de cada som, o que nos faz diferenciar as vozes e os instrumentos.
Os atributos do som podem ser trabalhados por
meio de comparação, diferenciando um som agudo de um grave, forte de um
fraco, ou longo de um curto. Mas é mais interessante o uso de jogos
musicais, como por exemplo, o Jogo do Grave e Agudo (baseado no Morto
Vivo, só que usa um som agudo para ficar em pé e um grave para abaixar, o
som pode ser produzido por um instrumento, por apitos com alturas
diferentes ou pela voz). O jogo de Esconde-Esconde onde as crianças
escolhem um objeto a ser escondido, e uma delas se retira da classe
enquanto as outras escondem o objeto. A criança que saiu retorna para
procurar o objeto e as outras devem ajudá-la a encontrar produzindo sons
com maior intensidade quando estiver perto, e menor intensidade quando
estiver longe. O som poderá ser produzido com a boca, palmas, ou da
forma que acharem melhor. Essa brincadeira leva a criança a controlar a
intensidade sonora e desenvolve a noção de espaço.
Para trabalhar a noção de duração o educador
pode pedir para que as crianças desenhem o som. Não é desenhar a fonte
sonora, mas sim descrever a impressão que o som causou, se foi demorado
ou breve, ascendente ou descendente. Por fim, para se trabalhar o timbre
o educador pode pedir para que uma criança fique de costas para a turma
enquanto estes cantam uma canção, ao sinal do professor todos param de
cantar e apenas uma criança continua, a que estava de costas deve
adivinhar quem continuou. Estas são apenas sugestões, existem diversos
outros jogos que podem ser realizados.
Através dessas atividades o educador pode
perceber quais os pontos fortes e fracos das crianças, principalmente
quanto à capacidade de memória auditiva, observação, discriminação e
reconhecimento dos sons, podendo assim vir a trabalhar melhor o que está
defasado. Bréscia (2003) ressalta que os jogos musicais podem ser de
três tipos, correspondentes às fases do desenvolvimento infantil:
Sensório-Motor (até os dois anos): São
atividades que relacionam o som e o gesto. A criança pode fazer gestos
para produzir sons e expressar-se corporalmente para representar o que
ouve ou canta. Favorecem o desenvolvimento da motricidade.
Simbólico (a partir dos dois anos): Aqui
se busca representar o significado da música, o sentimento, a
expressão. O som tem função de ilustração, de sonoplastia. Contribuem
para o desenvolvimento da linguagem.
Analítico ou de Regras (a partir dos quatro anos) :
São jogos que envolvem a estrutura da música, onde são necessárias a
socialização e organização. Ela precisa escutar a si mesma e aos outros,
esperando sua vez de cantar ou tocar. Ajudam no desenvolvimento do
sentido de organização e disciplina.
A duração das atividades deve variar conforme a
idade da criança, dependendo de sua atenção e interesse. Além disso,
vale lembrar que é preciso respeitar a forma de expressão de cada um,
mesmo que venha a parecer repetitivo ou sem sentido. É importante que a
criança sinta-se livre para se expressar e criar.
2.2. O PAPEL DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO
Snyders (1992) comenta que a função mais
evidente da escola é preparar os jovens para o futuro, para a vida
adulta e suas responsabilidades. Mas ela pode parecer aos alunos como um
remédio amargo que eles precisam engolir para assegurar, num futuro
bastante indeterminado, uma felicidade bastante incerta. A música pode
contribuir para tornar esse ambiente mais alegre e favorável à
aprendizagem, afinal “propiciar uma alegria que seja vivida no presente é
a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos
alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria
que possa ser vivida no momento presente” (SNYDERS, 1992, p. 14).
Além de contribuir para deixar o ambiente
escolar mais alegre, podendo ser usada para proporcionar uma atmosfera
mais receptiva à chegada dos alunos, oferecendo um efeito calmante após
períodos de atividade física e reduzindo a tensão em momentos de
avaliação, a música também pode ser usada como um recurso no aprendizado
de diversas disciplinas. O educador pode selecionar músicas que falem
do conteúdo a ser trabalhado em sua área, isso vai tornar a aula
dinâmica, atrativa, e vai ajudar a recordar as informações. Mas, a
música também deve ser estudada como matéria em si, como linguagem
artística, forma de expressão e um bem cultural. A escola deve ampliar o
conhecimento musical do aluno, oportunizando a convivência com os
diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma
análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se
torne mais crítico. Conforme Mársico (1982, p.148) “[...] uma das
tarefas primordiais da escola é assegurar a igualdade de chances, para
que toda criança possa ter acesso à música e possa educar-se
musicalmente, qualquer que seja o ambiente sócio-cultural de que
provenha”.
As atividades musicais realizadas na escola não
visam a formação de músicos, e sim, através da vivência e compreensão
da linguagem musical, propiciar a abertura de canais sensoriais,
facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e
contribuindo para a formação integral do ser. A esse respeito Katsch e
Merle-Fishman apud Bréscia (2003, p.60) afirmam que “[...] a música pode
melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo
na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades
lingüísticas nas crianças”.
Além disso, como já foi citado anteriormente, o
trabalho com musicalização infantil na escola é um poderoso instrumento
que desenvolve, além da sensibilidade à música,
fatores como: concentração, memória, coordenação motora, socialização,
acuidade auditiva e disciplina. Conforme Barreto (2000, p.45):
Ligar a música e o movimento, utilizando a
dança ou a expressão corporal, pode contribuir para que algumas
crianças, em situação difícil na escola, possam se adaptar (inibição
psicomotora, debilidade psicomotora, instabilidade psicomotora, etc.).
Por isso é tão importante a escola se tornar um ambiente alegre,
favorável ao desenvolvimento.
Gainza (1988) afirma que as atividades musicais na escola podem ter objetivos profiláticos, nos seguintes aspectos:
Físico: oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões devidas à instabilidade emocional e fadiga;
Psíquico: promovendo processos de expressão, comunicação e descarga emocional através do estímulo musical e sonoro;
Mental: proporcionando
situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido
da ordem, harmonia, organização e compreensão.
Para Bréscia (2003, p. 81) “[...] o aprendizado
de música, além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança,
amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar dos alunos e
contribui para integrar socialmente o indivíduo”.
3. A INTELIGÊNCIA MUSICAL – CONTRIBUIÇÕES DE HOWARD GARDNER
A teoria das inteligências
múltiplas sugere que existe um conjunto de habilidades, chamadas de
inteligências, e que cada indivíduo as possui em grau e em combinações
diferentes. Segundo Gardner (1995, p. 21): “Uma inteligência implica na
capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são
importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural”. São, a
princípio, sete: inteligência musical, corporal-cinestésica,
lógico-matemática, lingüística, espacial, interpessoal e intrapessoal. A
inteligência musical é caracterizada pela habilidade para reconhecer
sons e ritmos, gosto em cantar ou tocar um instrumento musical.
Gardner (1995) destaca ainda que as
inteligências são parte da herança genética humana, todas se manifestam
em algum grau em todas as crianças, independente da educação ou apoio
cultural. Assim, todo ser humano possui certas capacidades essenciais em
cada uma das inteligências, mas, mesmo que um indivíduo possua grande
potencial biológico para determinada habilidade, ele precisa de
oportunidades para explorar e desenvolvê-la. “Em resumo, a cultura
circundante desempenha um papel predominante na determinação do grau em
que o potencial intelectual de um indivíduo é realizado” (GARDNER, 1995,
p, 47). Sendo assim, a escola deve respeitar as habilidades de cada um,
e também propiciar o contato com atividades que trabalhem as outras
inteligências, mesmo porque, segundo o autor, todas as atividades que
realizamos utilizam mais do que uma inteligência.
Ao considerar as diferentes habilidades, a
escola está dando oportunidade para que o aluno se destaque em pelo
menos uma delas, ao contrário do que acontece quando se privilegiam
apenas as capacidades lógico-matemática e lingüística. Além disso, na
avaliação é preciso considerar a forma de expressão em que a criança
melhor se adapte.
Campbell; Campbell; Dickinson (2000, p.147) ao
comentarem sobre a inteligência musical, resumem os motivos pelos quais
ela deve ser valorizada na escola:
- Conhecer música é importante.
- A música transmite nossa herança cultural. É
tão importante conhecer Beethoven e Louis Armstrong quanto conhecer
Newton e Einstein.
- A música é uma aptidão inerente a todas as pessoas e merece ser desenvolvida.
- A música é criativa e auto-expressiva, permitindo a expressão de nossos pensamentos e sentimentos mais nobres.
- A música ensina os alunos sobre seus
relacionamentos com os outros, tanto em sua própria cultura quanto em
culturas estrangeiras.
- A música oferece aos alunos rotas de sucesso que eles podem não encontrar em parte alguma do currículo.
- A música melhora a aprendizagem de todas as matérias.
- A música ajuda os alunos a aprenderem que nem tudo na vida é quantificável.
- A música exalta o espírito humano.
4. A MÚSICA COMO MEIO DE INTEGRAÇÃO DO SER
Há muito vem se estudando a relação entre
música e saúde, conforme Bréscia (2003, p. 41): “A investigação
científica dos aspectos e processos psicológicos ligados à música
é tão antiga quanto as origens da psicologia como ciência”. A autora
cita ainda os benefícios do uso da música em diversos ambientes como
hospitais, empresas e escolas.
Em alguns hospitais a música tem sido utilizada
antes, durante e após cirurgias, os resultados vão desde pressão
sangüínea e pulso mais baixos, menos ansiedade, sinais vitais e estado
emocional mais estáveis, até menor necessidade de anestésico. A
Faculdade de Medicina do Centro de Ciências Médicas e Biológicas da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo realizou uma pesquisa que
avalia os efeitos da música em pacientes com câncer. A pesquisa revela
que a musicoterapia pode contribuir para a diminuição dos sintomas de
pacientes que fazem tratamento quimioterápico.
Em empresas o meio mais procurado para se fazer
música é o canto coral, pois esta é uma atividade que permite a
integração e exige cooperação entre seus membros, além de proporcionar
relaxamento e descontração. Na opinião de Faustini apud Bréscia (2003,
p.61):
A necessidade social do homem de ser aceito por
uma organização e de pertencer a um determinado grupo para o qual
contribua com seu tempo e talento, é amplamente satisfeita pela
participação num grupo coral. Além disso, este grupo lhe dará grande
satisfação e prazer em suas realizações artísticas, beneficentes,
religiosas, e desenvolverá nele orgulho sadio, por estar sua pessoa
relacionada a um excelente grupo.
Cantar é uma atividade que exige controle e uso
total da respiração, proporcionando relaxamento e energização. Fregtman
apud Gregori (1997 p. 89) comenta que: “O canto desenvolve a
respiração, aumenta a proporção de oxigênio que rega o cérebro e,
portanto, modifica a consciência do emissor”. A prática do relaxamento
traz muitos benefícios, contribuindo para a saúde física e mental. De
acordo com Barreto e Silva (2004, p. 64): “O relaxamento propicia o
controle da mente e o uso da imaginação, dá descanso, ensina a eliminar
as tensões e leva à expansão da nossa mente”.
Assim como as atividades de musicalização a
prática do canto também traz benefícios para a aprendizagem, por isso
deveria ser mais explorada na escola. Bréscia (2003) afirma que cantar
pode ser um excelente companheiro de aprendizagem, contribui com a
socialização, na aprendizagem de conceitos e descoberta do mundo. Tanto
no ensino das matérias quanto nos recreios cantar pode ser um veículo de
compreensão, memorização ou expressão das emoções. Além disso, o canto
também pode ser utilizado como instrumento para pessoas aprenderem a
lidar com a agressividade.
O relaxamento propiciado pela atividade de
cantar também contribui com a aprendizagem. Barreto (2000, p. 109)
observa que: “O relaxamento depende da concentração e por isso só já
possui um grande alcance na educação de crianças dispersivas, na
reeducação de crianças ditas hiperativas e na terapia de pessoas
ansiosas ”. Comenta ainda que crianças com problemas de
adaptação geralmente apresentam respiração curta e pela boca, o que
dificulta a atenção concentrada, já que esta depende do controle
respiratório.
As atividades relacionadas à música
também servem de estímulo para crianças com dificuldades de
aprendizagem e contribuem para a inclusão de crianças portadoras de
necessidades especiais. As atividades de musicalização, por exemplo,
servem como estímulo a realização e o controle de movimentos
específicos, contribuem na organização do pensamento, e as atividades em
grupo favorecem a cooperação e a comunicação. Além disso, a criança
fica envolvida numa atividade cujo objetivo é ela mesma, onde o
importante é o fazer, participar, não existe cobrança de rendimento, sua
forma de expressão é respeitada, sua ação é valorizada, e através do
sentimento de realização ela desenvolve a auto-estima. Sadie apud
Bréscia ( 2003, p.50) afirma que:
crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à música,
quando tudo o mais falhou. A música é um veículo expressivo para o
alívio da tensão emocional, superando dificuldades de fala e de
linguagem. A terapia musical foi usada para melhorar a coordenação
motora nos casos de paralisia cerebral e distrofia muscular. Também é
usada para ensinar controle de respiração e da dicção nos casos em que
existe distúrbio da fala.
Já que a música comprovadamente pode trazer
tantos benefícios para a saúde física e mental porque a escola não a
utiliza mais? Incluí-la no cotidiano escolar certamente trará benefícios
tanto pra professores quanto para alunos. Os educadores encontram nela
mais um recurso, e os alunos se sentirão motivados, se desenvolvendo de
forma lúdica e prazerosa. Como já foi comentado, a música ajuda a
equilibrar as energias, desenvolve a criatividade, a memória, a
concentração, auto-disciplina, socialização, além de contribuir para a
higiene mental, reduzindo a ansiedade e promovendo vínculos (BARRETO e
SILVA, 2004).
Gregori (1997) explica que harmonia, em música,
é uma combinação de sons simultâneos que acompanha a melodia e é
construída de acordo com o gosto do compositor. No cotidiano, inclusive
na escola, também se deve buscar harmonizar a síntese dialética corpo/
mente, pois esta tembém deve propiciar uma maior tomada de conhecimento
da consciência corporal, promovendo o equilíbrio do ser e contribuindo
para sua integração com o meio onde vive, e a música pode contribuir
para isto segundo os avanços das neurociências.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidenciou-se através deste estudo que as
diversas áreas do conhecimento podem ser estimuladas com a prática da
musicalização. De acordo com esta perspectiva, a música é concebida como
um universo que conjuga expressão de sentimentos, idéias, valores
culturais e facilita a comunicação do indivíduo consigo mesmo e com o
meio em que vive. Ao atender diferentes aspectos do desenvolvimento
humano: físico, mental, social, emocional e espiritual, a música pode
ser considerada um agente facilitador do processo educacional. Nesse
sentido faz-se necessária a sensibilização dos educadores para despertar
a conscientização quanto às possibilidades da música para favorecer o
bem-estar e o crescimento das potencialidades dos alunos, pois ela fala
diretamente ao corpo, à mente e às emoções.
A presença da música na educação auxilia a
percepção, estimula a memória e a inteligência, relacionando-se ainda
com habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas ao desenvolver
procedimentos que ajudam o educando a se reconhecer e a se orientar
melhor no mundo. Além disso, a música também vem sendo utilizada como
fator de bem estar no trabalho e em diversas atividades terapêuticas,
como elemento auxiliar na manutenção e recuperação da saúde.
As atividades de musicalização também favorecem
a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. Pelo seu
caráter lúdico e de livre expressão, não apresentam pressões nem
cobranças de resultados, são uma forma de aliviar e relaxar a criança,
auxiliando na desinibição, contribuindo para o envolvimento social,
despertando noções de respeito e consideração pelo outro, e abrindo
espaço para outras aprendizagens.
6. REFERÊNCIAS
BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação. 2. ed. Blumenau: Acadêmica, 2000.
BARRETO, Sidirley de Jesus; SILVA, Carlos Alberto da. Contato: Sentir os sentidos e a alma: saúde e lazer para o dia-a dia. Blumenau: Acadêmica, 2004.
BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
CAMPBELL, Linda; CAMPBELL, Bruce; DICKINSON, Dee . Ensino e Aprendizagem por meio das Inteligências Múltiplas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. ed. São Paulo: Summus, 1988.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GREGORI, Maria Lúcia P. Música e Yoga Transformando sua Vida. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
MÁRSICO, Leda Osório. A criança e a música: um estudo de como se processa o desenvolvimento musical da criança. Rio de Janeiro: Globo, 1982.
SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
WEIGEL, Anna Maria Gonçalves. Brincando de Música: Experiências com Sons, Ritmos, Música e Movimentos na Pré-Escola. Porto Alegre: Kuarup, 1988.